Cordisburgo, em Minas Gerais, é conhecida como a terra de Guimarães Rosa, um dos mais famosos escritores da literatura brasileira. Mas o objetivo de nossa passagem por lá incluía, principalmente, conhecer as grutas da região.
A cidade faz parte da Rota das Grutas Peter Lund, um circuito turístico promovido pelo Governo de Minas Gerais.
O naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) ficou célebre por suas descobertas arqueológicas e paleontológicas, passando por cidades como Belo Horizonte, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Sete Lagoas e Cordisburgo.
Mas como deixar de lado uma visita ao Museu Casa Guimarães Rosa, ou conhecer um dos personagens mais curiosos e queridos de Cordisburgo, o seu Brasinha? De Peter Lund a seu Brasinha, passando por Guimarães Rosa, confira o que conhecer nessa cidade que fica pertinho de Belo Horizonte (120km da capital mineira).
Cordisburgo MG: Terra de Guimarães Rosa e da Gruta do Maquiné
Confira algumas das principais atrações de Cordisburgo, na Rota das Grutas Peter Lund
Os objetos cheios de história do Seu Brasinha
Ainda é cedo e seu Brasinha ainda não abriu a sua loja em Cordisburgo.
Ele chega dirigindo uma Brasília e caminha até o espaço, abrindo as portas. Pendura algumas placas com frases escritas. “Toda saudade é uma espécie de velhice”, diz uma das placas. A gente se aproxima. Ao entrar, aquele choque.
Seu Brasinha tem uma enorme coleção de objetos antigos. Segundo ele, cada objeto possui a sua história.
Nada está à venda, já que para ele, aqueles objetos (e a história de cada um) são insubstituíveis. Existem coleções de canetas, de anões de jardim, de relógios antigos, de discos. É impossível não reconhecer naquele espaço, alguma lembrança do próprio passado.
Ele liga a vitrola e começa a tocar um disco com a música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Imediatamente fico todo arrepiado e preciso desviar a atenção para conter a emoção. Os olhos ficam levemente marejados, não somente com a música, mas com aquele senhor apresentando objetos cheios de histórias pessoais.
Seguro meu choro.
Seu Brasinha lembra particularmente de um programa de TV que, em troca de algumas de suas quinquilharias, deu a ele uma passagem para Cuba, um de seus maiores sonhos. Seu Brasinha admite que cedeu apenas objetos que ele tinha em dobro.
Barraca do Sassá
Em frente da casa do Seu Brasinha, está a Barraca do Sassá. Um bar bem tradicional de paredes de madeira, traz frases penduradas nas suas paredes como “Cuide da sua saúde, que da sua vida o povo já cuida” ou “Proibido entrar bêbado, sair pode”.
Os homens de Cordisburgo se juntam ali para prosear, enquanto nosso grupo de blogueiros levanta hora e outra para tirar uma foto do lugar.
Ninguém nota ou se importa. Permanecem tocando sua rotina, como se as câmeras não existissem.
Essa são apenas algumas das histórias que se vivem na bucólica cidade de Cordisburgo, mais famosa como terra de Guimarães Rosa.
“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquine, milmaravilha…” (Guimarães Rosa)
Museu Casa Guimarães Rosa
Por conta disso, é imperdível visitar o Museu Casa Guimarães Rosa, onde o famoso escritor brasileiro viveu na sua infância. O museu foi inaugurado em 1974 com o objetivo de preservar e difundir o legado desse maravilhoso escritor brasileiro.
Cada ambiente da casa faz referência a uma das obras do escritor, que nem teve muitas publicações. Mas as poucas que teve marcaram a história da literatura brasileira. Como esquecer de histórias como a de Grande Sertão Veredas, provavelmente o maior clássico de Rosa.
Mas confesso que me dá vontade de chorar toda vez que lembro da história de Miguilim, um menino que vive com a família no interior de Minas Gerais e descobre um novo mundo após descobrir que tem miopia. Toda vez que me lembro dessa história, fico emocionado de história tão emocionante.
Grupo Miguilim
O Museu Casa Guimarães Rosa possui um projeto, o Projeto Miguilim, que traz adolescentes de 13 a 20 anos que recitam trechos da obra de Guimarães. O objetivo com a criação do grupo era deixar as visitas ao Museu Casa Guimarães Rosa ainda mais interessantes ao público geral.
Muito mais do que ter sua atenção voltada para a casa, objetos ou móveis da casa, com a apresentação do Grupo Miguilim, a principal atração da visita é a palavra.
Mas se você imaginou que a leitura de Guimarães Rosa seria uma simples fala decorada, enganou-se. Há muito, mas muito sentimento no modo como ouvimos três meninas narrar trechos da obra do escritor. Elas recitam as frases com o mesmo carinho que Rosa parecia compô-las.
“E Miguilim olhou para todos com tanta força. Saiu lá fora. Olhou os matos escuros de cima do morro, aqui a casa, a cerca de feijão-bravo e são-caetano; o céu, o curral, o quintal; os olhos redondos e os vidros altos da manhã. Olhou, mais longe, o gado pastando perto do brejo, florido de são-josés, como um algodão. O verde do buriti, numa primeira vereda. O Mutum era bonito! Agora ele sabia”.
Pronto, chega de conter as lágrimas. As meninas do Grupo Miguilim fizeram algumas lágrimas escorrerem de meu rosto.
Cordisburgo é para emocionar, e olha que a gente nem tinha entrado ainda nas grutas.
Gruta do Maquiné
Mas o propósito de nossa viagem era conhecer cavernas, e seguimos para a Gruta do Maquiné, uma das principais atrações da região.
Quando Peter Lund descobriu a gruta, em 1835, teria declarado que “nunca meus olhos viram coisa tão bela e magnífica nos domínios da natureza e da arte.”
Na chegada, o gestor Mário Lúcio nos guia pelas galerias da Gruta. Os grupos podem ser de no máximo 40 pessoas.
Ele conta que somente o complexo do Maquiné possui 33 cavernas, mas que em Cordisburgo, são mais de 60 grutas conhecidas.
Na entrada, paramos para algumas explicações básicas e logo sai um grupo de crianças. As grutas de Minas funcionam como um ótimo meio de educar e conscientizar estudantes sobre os recursos naturais.
Conforme avançamos para dentro da Gruta do Maquiné, o ambiente vai perdendo a claridade natural e ganhando as cores de luzes artificiais, mas em menos quantidade do que em outras grutas que visitaríamos a seguir. Tivemos uma rápida conversa entre nós, blogueiros, sobre as preferências de cada um. Enquanto alguns preferem pouca iluminação artificial, eu acho que as luzes tornam as grutas ainda mais fascinantes.
Mas é preciso cuidado. As grutas são muito frágeis e um descuido no manejo desses lugares pode representar um sério prejuízo para um ambiente que demorou muitos anos para se configurar dessa forma.
Os 7 salões da Gruta do Maquiné
São 650 metros lineares e desnível de apenas 18 metros, ou seja, uma das grutas de mais fácil visitação entre as que visitamos em Minas Gerais.
Entre os espeleotemas da gruta, os principais são as estalactites, estalagmites, colunas, cortinas e represas de travertino.
1 – Vestíbulo: ainda iluminado pela luz externa
2 – Sala das Colunas: com 38 metros de comprimento e 3 metros de altura, possui estalagmites que sobem até o teto
Salão do Altar: locação da novela Império
3 – Altar ou Trono: aqui o pessoal começa a exercer a criatividade e enxergar formas nas rochas, como a de um altar ou trono. Foi nesse grande salão de 16 metros de altura que uma cena da novela Império foi gravada: o comendador escondia aqui seu diamante.
4 – Carneiro: o nome vem de algumas formas rochosas que lembram um carneiro
5 – Salão das Piscinas: as “piscinas” de travertino formam um escorrimento chamado de cascata, uma pena que visitamos fora de época de chuvas, e as grutas estavam praticamente secas.
6 – Salão das Fadas: as mais bonitas estalactites se encontram nesse salão, e toda a câmara está coberta por uma crosta de cristais brilhantes.
7 – O último salão é o maior e possui duas divisões: parte Dr. Lund e parte Salão do Cemitério, em função da quantidade de ossadas que foram encontraram por lá. O salão é enorme, com mais de 160 metros de comprimento e até existe um cantinho onde Peter Lund supostamente usava como cama durante seus estudos.
O passeio pela Gruta do Maquiné termina no último e maior salão, onde se encontrava a cama de Peter Lund. Um buraco nas rochas, formando um espaço perfeito para um ser humano dormir, teria sido o lugar onde Lund dormia durante suas pesquisas naturalistas.
“Em uma gruta, nada se deixa, a não ser pegadas. Nada se mata, a não ser o tempo. Nada se tira, a não ser fotografias. Nada se quebra, a não ser o silêncio”.
Almoço Restaurante Chero’s
Almoçamos no excelente restaurante que fica em frente a Gruta do Maquiné. Pedimos um feijão tropeiro acompanhado de carne e frango e ficamos felizes quando afinal encontramos doce de leite de sobremesa em um restaurante. A piada é que, até então, nenhum restaurante que tínhamos visitado esse tradicional doce mineiro.
A Gruta do Maquiné possui facilidade de acesso, em plataformas de metal com corrimões, tudo absolutamente seguro. O acesso para a Gruta do Maquiné só envolve encarar uma pequena escadaria.
Portanto, esse passeio atinge visitantes de todas as cidades e condições físicas. Mas mesmo com tanta infraestrutura, não é difícil se sentir um explorador de cavernas dentro delas. Os lugares são incríveis e altamente cinematográficos. Portanto, programe-se e não deixe de conhecer.
Leia também: Parque Nacional Grutas do Peruaçu – Gruta do Janelão
FICHA TÉCNICA:
Passeio: Gruta do Maquiné
Direção: Cordisburgo, 120km de Minas Gerais
Produção: R$ 20,00 por pessoa
Fotografia: Fabio Pastorello
O melhor: Possui salões amplos com muita variedade de espeleotemas
O pior: A iluminação não valoriza muito as formações, se comparados com outras grutas como a Gruta Rei do Mato e a Gruta da Lapinha
Ano: 2017
País: Brasil
Avaliação: ★★★
Nota: O Viagens Cine viajou para Minas Gerais a convite da SETUR-MG, mas nossas opiniões são independentes e resultado de nossa experiência no local.
Leia também: O que fazer em 3 dias em Belo Horizonte – Rota das Grutas Peter Lund
Fontes:
- Minas Gerais: O que fazer – Ecoturismo
- Prefeitura Municipal de Cordisburgo: Pontos Turísticos
2 Comentários
Como não amar Cordisburgo, realmente uma cidade encantadora que sou fã. Amei o texto e a parte dos miguilins, toda vez que vejo o grupo narrar trechos dos livros do Guimarães me emociono.
Parabéns
E eu então, foi uma emoção só esse dia. Cidade deliciosa. Obrigadão Thalita.