Lembro-me da primeira vez que fui para Barcelona, na expectativa de encontrar uma cidade toda modernista. Como se todas as ruas e cantos pudessem conter obras de Gaudí.
A arquitetura de Gaudí não é tão profusa na cidade, mas de tão preciosa, acaba permanecendo na nossa memória por várias ruas e momentos.
Na verdade, é muito difícil pensar em Barcelona e não lembrar das obras de Antoni Gaudí.
O mais famoso legado de Gaudí é a Sagrada Família, a igreja que demora anos para ser concluída (e ainda não está finalizada). Mas a Casa Milá (La Pedrera) a a Casa Batló também viraram célebres pontos turísticos de Barcelona.
Além disso, o terraço da La Pedrera e o Park Güell, por exemplo, foram locações do filme “Vicky Cristina Barcelona” (2008), de Woody Allen.
O filme “Albergue Espanhol” (2002), de Cédric Klapisch, também foi filmado em Barcelona e traz cenas no Park Güell. Aliás, esse é mais dos lugares icônicos de Barcelona, com uma vista espetacular para a cidade.
Confira a seguir todos esses lugares da Barcelona de Gaudí, algumas dicas úteis e um pouco da história de cada um.
A Barcelona de Gaudí: Principais Obras e A Sagrada Família
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Chegar em duas das casas mais famosas de Antoni Gaudí é relativamente fácil. Elas ficam no Passeig de Gràcia, uma avenida sofisticada que desemboca na Plaza de Catalunya, um dos pontos mais movimentados da cidade.
Caminhar pelo Passeig de Gràcia já é uma experiência e tanto, pelas beleza de seus calçadões arborizados, com belas lojas e restaurantes. Ainda melhor que a avenida seja o local de duas casas mais relevantes de Gaudí.
Desde 1860, quando um ambicioso plano foi aprovado para a cidade de Barcelona, o Passeig de Gràcia se tornou a espinha dorsal da cidade. Teatros, cinemas, restaurantes e cafés foram abertos na avenida.
As famílias burguesas mais ricas e importantes da cidade se mudaram para essa avenida.
O objetivo era construir e reformar casas para chamar a atenção de quem passasse por lá. Para isso, contrataram os melhores arquitetos da época. Um deles, é lógico, era Antoni Gaudí.
Casa Milà, La Pedrera
A primeira casa que visitamos na Passeig de Gràcia foi a La Predera, ou Casa Milà.
História
Em 1905, o imóvel foi uma encomenda de Pere Milà, um industrial que pretendia ter ali sua residência familiar. O primeiro andar seria para a casa de Pere e sua esposa. Os demais seriam apartamentos para alugar.
- A construção da casa foi cheia de controvérsias e estourou o orçamento da família.
- Além disso, Gaudí quebrou várias regras da cidade, como a altura do prédio e uma das colunas que invadia a calçada do Passeig de Gràcia.
- A fachada de pedra era cheia de curvas foi vista com estranheza pelos barceloneses da época de sua construção, inclusive virando motivo de chacota.
- Tanto que a Casa Milà acabou ganhando o apelido de La Pedrera, por se assemelhar a uma pedreira.
- Mas no interior da Pedrera, o que se vê são mais curvas e muitas, mas muitas referências a natureza.
Compramos o ingresso na hora e logo entramos (há um detector de metais que passa somente pelas mochilas).
O audioguia é gratuito e muito importante para compreender melhor os detalhes e toda a riqueza de referências de Gaudí.
Arquitetura
- Nos pátios interiores, as pinturas de Aleix Clapés e as formas arquitetônicas fazem você se sentir em um bosque.
- Confesso que a música do audioguia ajudou bastante e fiquei emocionado conforme ia absorvendo melhor o espaço e as informações visuais.
- A concepção dos pátios foi inovadora, criando um espaço para iluminar e ventilar todos os apartamentos.
- O térreo funcionava como um estacionamento para carros e carruagens, uma inovação arquitetônica para a época.
Terraço
- São vários andares visitáveis, mas o grande destaque é o terraço. Novamente aqui, o arquiteto retrata a natureza através de elementos como a água e a terra.
- As chaminés da casa foram transformadas em “guardiões”. Os acessos para as escadas também ganham formas curvas e modernistas. É tudo muito inusitado e bonito.
FICHA TÉCNICA
La Pedrera
Endereço: Passeig de Gràcia, 92 – Eixample
Horário: Diariamente das 9h às 20h30
Como Chegar: Metrô L2/L3/L4 – Passeig de Gràcia
Preços: a partir de € 22,00
Casa Batlló
Para a próxima atração, a Casa Batlló, novamente Gaudí caprichou.
Antes de entrar, é preciso escolher qual o tipo de visita. A mais barata, que custa € 25,00, já contempla muita coisa interessante. Novamente, demos sorte com uma fila bem pequena e tranquila e já entramos.
Aqui também ele distribuem audioguias e, o melhor, é que também existem em português. Português de Portugal, mas dá para entender quase tudo.
História
A casa foi construída em 1877 e comprada por Josep Batlló y Casanovas, que contratou Gaudí para reformá-la. Para esse projeto, Batlló deu totalmente liberdade criativa ao arquiteto.
Inicialmente a ideia era demolir a casa, mas Gaudí preferiu reformá-la e a obra durou 2 anos, de 1904 a 1906.
- O resultado é uma casa que evoca o ambiente marítimo, tanto do lado de dentro como do lado de fora. A fachada desperta diversas interpretações e Gaudí nunca explicou seu trabalho.
- Para isso, Gaudí utiliza dos mais diversos elementos, como pedra, vidro e cerâmica. As cores também são importantes, especialmente o azul na parte interna.
- Os ambientes são sempre criativos e funcionais, então tudo tem uma função para a casa.
Interior
- A sala principal tem uma belíssima fachada de vidro, com vitrais coloridos que diminuem ou aumentam a entrada de luminosidade.
- A varanda foi construída para que seus proprietários observassem o Passeig de Gràcia, mas que também pudessem ser vistos.
- A subida pelas escadas da Casa Batló é realmente algo surpreendente. Com azulejos azuis, todo o vão interno é preenchido com azulejos de diferentes cores, que na realidade vão escurecendo conforme aumenta a entrada de luz na casa.
- Os vidros que protegem os passantes de uma casa, possuem também uma ondulação. Ao olhar por eles, você tem a impressão de estar no fundo do mar.
Terraço
- O terraço da Batlló é bem inferior ao da Pedrera. Nem é tão bonito nem é tão interessante, mas representaria a parte de trás de um dragão (uma das interpretações da fachada da casa).
- Lá no último andar, vale a pena tirar uma foto numa das varandas da casa. No local há um serviço de fotografia pago, que registra a foto para você. Mas nós tiramos nossa própria foto também (eles dizem que não pode tirar foto, então seja rápido).
FICHA TÉCNICA
Casa Battló
Endereço: Passeig de Gràcia, 43 – Eixample
Horário: Diariamente das 9h da manhã até às 9h da noite
Como Chegar: Metrô L2/L3/L4 – Passeig de Gràcia
Preços: a partir de € 25,00
Se você está se perguntando qual das casas vale mais a pena, é bem difícil decidir.
Na minha opinião, as duas casas devem ser visitadas. Mas se você tiver que escolher mesmo, vá na La Pedrera.
O terraço da La Pedrera com as chaminés e os guardiões é cinematográfico e foi uma das locações do filme “Vicky Cristina Barcelona”. Cenas da produção de Woody Allen também foram gravadas do Park Güell.
Park Güell
Para encerrar nosso dia, ainda fomos até o Park Guell, um parque incrível que fica numa parte alta da cidade.
Aqui é necessário abandonar o Passeig de Grácia e pegar o metrô até a estação Lesseps. De lá, um caminhada de 15 minutos leva até a entrada do parque.
Se você comprar o ingresso com antecedência, tem direito a um transfer gratuito que sai da estação de metrô L4 – Alfons X. Vale a pena, já que a caminhada da estação Lesseps até o parque é um pouco cansativa.
Prepare-se para caminhar um pouco dentro do parque também. O parque é uma das maiores áreas verdes de Barcelona, com mais de 17 hectares. É tudo bem espaçado e num dia de sol, a caminhada pode castigar pois há poucas sombras.
História
O Park Güell nasceu do relacionamento entre Antoní Gaudí e o empreendedor Eusebi Güell.
- Eusebi Güell já havia contratado Gaudí para algumas obras, como o Palau Güell (1886).
- Foi em 1900 que surgiu o projeto de construção do parque.
- O projeto seria para ocupar um grande terreno de Güell, chamado de “Montanha Pelada” e transformá-lo num condomínio residencial.
- A localização do terreno era formidável, com uma vista maravilhosa para a cidade e o para o mar, o que justificava o investimento.
- A inspiração foram os parques recreativos britânicos, por isso o nome do lugar é em inglês mesmo (Park).
- Tudo foi pensado e construído para preservar a natureza do lugar. Nada poderia ser construído para obstruir a vista ou a iluminação natural das propriedades e a vegetação original foi preservada.
- No decorrer dos tempos, 40 casas foram construídas, mas somente 2 foram completas. Gaudí e Güell se mudaram para lá e passaram a ser vizinhos e amigos.
- Após a morte de Eusebi Güell em 1918, a propriedade privada foi vendida para a cidade de Barcelona e, em 1926, foi transformado em parque municipal.
- Em 1984 foi declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Zona Monumental
O Park Guell é formado por duas áreas, uma parte gratuita e uma parte paga, chamada de Zona Monumental.
A entrada nem é tão cara (€ 7,00), mas o problema é que as vagas são limitadas e você pode ter que aguardar cerca de 2 a 3 horas para entrar. Nós, por exemplo, chegamos às 16h30 e só tinha vagas para entrar às 19h.
Por sorte estávamos com um cartão de imprensa e conseguimos entrar mesmo assim, mas sugerimos que você compre sua entrada com antecedência. O único problema é que será necessário agendar um horário, o que vai engessar um pouco sua programação.
De qualquer forma, o lugar vale muito a pena.
- Dentro da Zona Monumental, está o banco ondulado revestido com peças de cerâmica coloridas.
- Ali a vista para Barcelona é perfeita, podendo-se avistar a Sagrada Família e o mar.
- Por conta disso, tenha um pouco de paciência para conseguir um lugar ao sol, digo, um lugar no banco para conseguir registrar a sua foto.
- Outro lugar imperdível e super fotografado é o dragão que fica na Escadaria Monumental.
- Não deixe também de conferir o Pórtico de la Lavandera e a Sala Hipóstila com suas colunas cinematográficas.
FICHA TÉCNICA
Endereço: Carrer d’Olot, s/n
Horário:
– Outubro e Inverno: 8h30 às 18h15
– Primavera: 8h às 20h30
– Verão: 8h às 21h30
Como Chegar: Metrô L3-Lesseps, L3-Vallcarca
Preços: a partir de € 25,00
Vídeo no YouTube
Assista nosso vídeo no YouTube com imagens dessas três obras de Gaudí.
Templo Expiatório da Sagrada Família
Uma visita até a Igreja da Sagrada Família, no entanto, é o ponto alto de qualquer viagem para Barcelona. E por mais que suas expectativas sejam altas, estar lá ao vivo é realmente impressionante.
Logo que você sai da estação de metrô já tem aquele impacto inicial. A escada rolante já leva você para o visual incrível da Fachada do Nascimento da Sagrada Família (a mais bonita das fachadas).
Mais do que qualquer lugar, é preciso comprar o seu ingresso com antecedência pelo site oficial da Sagrada Família. Na hora de comprar o ingresso, você também pode incluir a subida até uma das torres (a diferença é pouca e vale a pena).
Só fique atento que o ingresso terá um horário marcado, que será para a subida da torre (que é ainda mais restrita que a entrada na igreja). Minha sugestão é chegar 1 hora antes da entrada na torre, para você ter tempo que explorar a igreja em si.
Em caso de chuva ou tempo ruim, a visita às torres é cancelada e o dinheiro pago é ressarcido.
A subida às torres ocorre através de um elevador, mas envolve também subir e descer alguns degraus em corredores estreitos e nas alturas, portanto esse passeio não é recomendável para claustrofóbicos ou quem tem medo de altura.
História
- Uma das principais curiosidades sobre a Sagrada Família é que ela é uma obra em construção. O início foi em 1882 e a previsão de término é somente em 2026.
- Gaudí dedicou-se de forma integral à construção da igreja, até o ano da sua morte, em 1926.
- Ele só conseguiu ver a Fachada do Nascimento concluída. Todas as demais fachadas foram planejadas por ele através de rascunhos e maquetes, o que permitiu que sua obra fosse continuada por diversos outros arquitetos.
- Cada uma das fachadas representa um dos momentos da vida de Jesus Cristo, a Fachada do Nascimento ou Fachada da Natividade (Calle Marina), a Fachada da Paixão (morte e ressurreição, na Calle Sardenya) e a Fachada da Glória (o legado de Jesus Cristo através dos tempos, Calle Mallorca).
- As torres simbolizam os 12 apóstolos. Mas ao final serão 18 torres, pois também estão incluídas uma torre para Jesus Cristo, uma torre para Maria e as outras 4 torres para os evangelistas.
Arquitetura
Na hora de começa a visita, você retira o audioguia e começa a ouvir as explicações e curiosidades sobre a história da Sagrada Família. Prepare-se pois a quantidade de informações é enorme, e você realmente fica com vontade de escutar tudo, o que acaba levando muito tempo.
Por isso que recomendamos que você chega 1 hora antes do horário marcado para subir a torre, para você ter tempo de ouvir os áudios com calma.
- Entre as curiosidades, por exemplo, o interior da basílica foi todo projetado para simular uma floresta.
- As grandes colunas representariam os troncos das árvores.
- Os vitrais coloridos também trazem reflexos e cores para o interior da igreja que criam uma atmosfera ainda mais próxima da natureza.
- As imagens de santos e representações religiosas encontram-se todas nas fachadas, no lado externo. Gaudí preferiu que o interior da igreja tivesse poucos elementos.
- Além de imagens de santos e figuras relacionadas a Jesus Cristo, também é muito comum encontrar elementos da natureza, como animais, folhas ou flores.
- Vale também reparar nas diferenças entre as fachadas. Enquanto a Fachada do Nascimento é toda rebuscada e rica em elementos e figuras, a Fachada da Paixão tem menos elementos e linhas retas.
- Em alguns momentos você parece estar enxergando ossos na Fachada da Paixão, o que obviamente representa a morte.
FICHA TÉCNICA
Sagrada Família
Endereço: Carrer de Mallorca, 401
Horário: 9h às 18h
Como Chegar: Metrô L2/L5 – Sagrada Família
Preços: € 25,00 com audioguia e € 32,00 com visita às torres
Além dessas obras, Gaudí está presente em vários outros lugares de Barcelona. Existem vários tours que percorrem as ruas de Barcelona e mostram não somente suas obras, mas também outros exemplos do Modernismo Catalão. Vale a super a pena fazer um desses passeios guiados, como o de nossas amigas do blog Estrangeira ([email protected]).
Saiba mais
- Gaudí Route no Visit Barcelona
- Casa Vincens, a primeira casa de Gaudí, no Blog Estrangeira
- Modernismo Catalão no Vida Cigana
Nota: O Viagens Cine contou com o apoio do Visit Barcelona e a hospedagem no Two Hotel Barcelona foi uma cortesia do Axel Hotels.
3 Comentários
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Barcelona é uma cidade linda. As obras de Gaudi então são indescritíveis. Não dá pra visitar a cidade sem conhecer tais obras.
Verdade, Johnnie. Nós adoramos a cidade, principalmente por conta das obras maravilhosas de Gaudí. Abraços.