Chegou o carnaval. Para mim, que não gosto muito da folia, é sempre uma boa oportunidade para curtir a cidade de São Paulo mais vazia ou então para botar a programação do cinema em dia. Nesse ano, durante o carnaval ainda vai rolar a entrega do Oscar, o que acrescenta ainda mais minha vontade de me interar sobre as produções concorrentes. Muita gente torce o nariz para o Oscar. O prêmio da Academia realmente não é para se levar a sério, é uma premiação baseada em uma série de critérios, poucos deles artísticos. Mas acho uma época incrivelmente divertida, acompanhar todos os filmes concorrentes, entender um pouco melhor porque um filme foi indicado para melhor filme e o diretor não foi indicado, curtir os prêmios técnicos e ou acompanhar os atores e atrizes indicados. E a cerimônia também acho deliciosa de se assistir. Por isso, vamos lá conhecer alguns dos filmes indicados ao Oscar, para que você, folião cinematográfico possa curtir ou comentar o que achou.
Carnaval Cinematográfico: 5 Filmes Indicados ao Oscar
Veja 5 filmes que concorrem à estatueta e dê os seus palpites
por Fábio Pastorello
A impressionante fotografia de Gravidade, dirigido por Alfonso Cuáron
1 – Gravidade
O filme Gravidade (Gravity, 2013) já começa com uma cena impressionante da Terra, de um ponto de vista inusitado, de fora dela. As imagens são simplesmente deslumbrantes, o que justifica a merecida indicação ao Oscar de fotografia.
Os desafios da fotografia, no entanto, não se resumem às belas imagens espaciais.
Para viabilizar a filmagem, os atores foram filmados em estúdio e todas as outras cenas foram acrescentadas digitalmente. Para que o recurso não soasse artificial, houve todo um cuidado de iluminação no rosto dos atores para que a luz estivesse sincronizada com os movimentos que seriam mostrados.
O filme teve que esperar 4 anos para ser realizado (inicialmente, Angelina Jolie estava cotada para o papel), até que as condições tecnológicas viabilizassem a produção.
A produção avança na história de uma engenheira (Sandra Bullock, indicada ao Oscar de melhor atriz) em sua primeira missão espacial e de um acidente que irá complicar bastante a sua experiência fora da Terra.
Sandra passou 6 meses se preparando para o papel. Como os elementos em cena são exíguos, aspectos como até mesmo a respiração ganham importância e a preparação incluiu também treinar as diferenças entre os momentos de respiração ofegante por causa da emoção ou por causa da ausência de oxigênio.
Uma marca da direção de Alfonso Cuáron (dos também excelentes “Filhos da Esperança” com Clive Owen e “E Sua Mãe Também” com Gael Garcia Bernal – aliás ótimo filme de viagem) são os planos longos. O primeiro plano sequência do filme, por exemplo, dura quase 13 minutos. Esse estilo de filmagem contribui significativamente para a construção do suspense necessário ao filme. Uma pena que na sala de cinema, os silêncios do filme são preenchidos pelo barulho da platéia, que tem muita dificuldade de ficar calada ou não ficar mexendo em pacotes de pipoca durante a projeção.
Sandra Bullock em cena de Gravidade, em atuação impressionante
Apesar disso, poucas vezes o recurso do 3D foi usado com tanta pertinência no cinema, o que justifica conferir esse espetáculo em tela grande. Cenas de magnifíca beleza, como o momento em que a Dra. Ryan gira em posição fetal ou quando lágrimas flutuam sem a força da gravidade, se alternam com momentos de absoluto suspense e terror, que fazem a gente ficar boquiaberto diante da telona.
Mas acima de todos os aspectos e virtudes técnicas e cinematográficas, Gravidade é um filme que conta uma história simples, porém fundamental. A história de uma mulher que sofre com a perda da filha mas que, diante de adversidades, parte em uma jornada pela sobrevivência e para recuperar sua própria vida, em todos os sentidos.
Avaliação: ★★★★★
2 – Blue Jasmine
Apesar do excelente trabalho de interpretação de Sandra Bullock, a favorita mesmo ao Oscar de melhor atriz é Cate Blanchett, que está impecável em Blue Jasmine (Blue Jasmine, 2013). Na realidade, uma indicação ao Oscar é um misto de um excelente trabalho de interpretação com um bom personagem construído pelo roteiro do genial Woody Allen. Jasmine (Cate) é uma mulher que vive de aparências nas duas fases mostradas de sua vida.
Em Nova York, ela vive com o marido Alec Baldwin uma vida de luxo e ostentação, ignorando o fato que o cônjuge comete crimes para manter o padrão de vida. Para colaborar, ele tem várias amantes, o que acrescenta ainda mais a vida de aparências vivida por Jasmine.
Em uma segunda fase, Jasmine se vê pobre e é obrigada a viver de favor na casa da irmã Ginger (Sally Hawkings) em São Francisco. A irmã é bem mais humilde e simplória, convive com personagens grosseiros, o que torna essa adaptação de Jasmine ainda mais problemática. Em uma das cenas mais engraçadas, Jasmine faz um passeio turístico por São Francisco com a irmã e num detalhe genial de interpretação de Cate, tira uma foto dessas de turista, mas absolutamente constrangida.
Jasmine (Cate Blanchett) constrangida durante passeio pela cidade de São Francisco com a irmã
Gostaria de tecer algum comentário aqui sobre como as cidades de Nova York e São Francisco podem retratar o espírito de Jasmine em seus dois momentos, mas tenho receio de estar baseado em preconceitos sobre as cidades. O que posso dizer é que conheço muita gente que, assim como Jasmine, gosta de viajar de primeira classe sem ter um tostão no bolso (ou exibir roupas de grife, ou andar sempre com o último modelo de celular). Ostentar (e parecer ao invés de ser) é um mal recente em tempos de mídias sociais.
A curiosidade é que as duas protagonistas do filme são interpretadas por atrizes não americanas: Cate é australiana e Sally é britânica, fato raro em filmes de Woody Allen.
O filme de Allen entra na galeria dos filmes mais densos do diretor, como não se via desde Crimes e Pecados. A trajetória da protagonista pode ter seus momentos cômicos, mas eles escondem um filme nada passageiro, sobre uma personagem não menos superficial, ao contrário das aparências que procura retratar. Mas como só um gênio é capaz de realizar, o filme de Woody Allen não é pesado de assistir, torna-se leve, porém profundo.
Detalhe: Blue Jasmine não é um dos indicados ao Oscar de melhor filme. Sinceramente, apesar de ter gostado do filme, não achei um dos seus melhores filmes. Mas como se diz, um pior Woody Allen ainda vai ser melhor do que muita coisa por aí.
Avaliação: ★★★★
3 – Ela
Apesar do roteiro bem conduzido de Woody Allen em Blue Jasmine, para mim o grande roteiro do ano entre os indicados ao Oscar é mesmo a história de Ela (Her, 2013), de Spike Jonze. Tá bom, sou suspeito porque eu sou fã do cara desde que ele dirigia videoclipes (são deles clipes clássicos como Sabotage do Beastie Boys, It’s Oh So Quiet de Björk ou Da Funk, de Daft Punk), mas o roteiro tem essa união perfeita de uma história bem desenvolvida com um tema absolutamente atual.
O roteiro acompanha a história de Theodore (Joaquim Phoenix, perfeito) após o término de um relacionamento. Melancólico, ele assiste vídeos com sua ex e procura sexo rápido e virtual através de salas de bate papo. Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.
Sua vida muda quando ele começa a utilizar um sistema operacional avançado. A voz do sistema é de Scarlett Johansson, também muito boa no papel. O filme foi gravado inicialmente com a voz de Samantha Morton mas Jonze achou melhor trocar por outra atriz na hora da edição.
Uma curiosidade é que o nome do sistema permaneceu Samantha, já os personagens femininos principais mantiveram o nome de suas intérpretes (Amy Adams integra o elenco fazendo o papel de Amy, amiga de Theodore).
Theodore interage com Samantha, o sistema operacional, e acaba se apaixonando. Samantha se encaixa exatamente no que ele precisava de um relacionamento, o único senão é que sua paixão não existe no mundo real.
Theodore (Joaquin Phoenix) passeia em companhia de Samantha, um sistema operacional com quem conversa
atráves de um fone de ouvido
Muito além de uma crítica aos tempos modernos em que as pessoas preferem a companhia de mídias sociais e aplicativos de celular às conversas com pessoas ao vivo e a cores, o filme revela muito dos relacionamentos de hoje em dia. Estamos cada vez menos propensos a conviver com pessoas que pensam diferente de nós e temos cada vez mais dificuldade de nos comunicar.
Temos dificuldade de manter uma conversa com pontos divergentes, sem que ela parte para o caráter pessoal. Cada vez mais queremos pessoas que se encaixem em nossas vidas, mas não estamos dispostos nem um pouco a ceder.
Por isso, relacionamentos superficiais através das mídias socias parecem mais fáceis do que os em carne e osso. Assim como a paixão de Theodore pelo sistema operacional. Mas tal escolha possui suas implicações.
Theodore em seu apartamento em Los Angeles, mas os arranha-céus seriam de Xangai
Apesar da história se passar em Los Angeles, o cenário de prédios que ilustra a vista do apartamento na verdade é de Xangai, opção que acabou por dar um aspecto mais futurista ao projeto. O desenho de produção também está indicado ao Oscar, além do roteiro, música original e melhor filme.
Avaliação: ★★★★★
4 – Clube de Compras Dallas
Outro filme indicado ao Oscar de melhor filme, Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013) é um contundente retrato do início da Aids, inspirado em fatos verídicos. Matthew McConaughey vive Ron Woodroof, um eletricista machão, hostil e homofóbico que se descobre portador do vírus da Aids, que ele (e boa parte dos amigos) acreditava ser uma doença exclusivamente gay.
O cenário naquela época era bem diferente de hoje em dia, e a morte parecia inevitável. Ron parte em uma surpreendente busca pela sobrevivência, que irá ter desdobramentos surpreendentes.
Para não revelar muito da história, um desses desdobramentos é a forma como os Estados Unidos conduziam o tratamento dos soropositivos. Utilizando um tratamento extremamente agressivo que visava reduzir a quantidade de vírus no organismo, o AZT acabava por minar as defesas dos pacientes e levá-los à morte. Ou seja, os pacientes morriam não por causa da doença, mas por causa do tratamento.
Na época, outros tratamentos eram proibidos pela norte-americana FDA – Food and Drugs Administration, no que parecia configurar um esquema para favorecer comercialmente os fabricantes do AZT.
McConaughey perdeu mais de 20 quilos para o papel e a academia adora essas transformações físicas (quem já viu o ator em inúmeros papéis sem camisa, exibindo um corpo perfeito, irá se impressionar com a transformação), portanto suas chances de ganhar o Oscar são boas. Mas o ator apresenta um trabalho que ultrapassa meramente a perda de peso. Assim como a interpretação de Blanchett, ele ganha um personagem interessantíssimo, que surge homofóbico e aos poucos vai se modificando em função de sua experiência e de sua convivência com o transexual Rayon (Jared Leto, também indicado e que perdeu 13 quilos).
Rayon (Jared Leto) e Ron (Mattew McConaughey), um
Para compor melhor o personagem, Leto permanecia travestido mesmo fora das filmagens e saía às ruas para observar o comportamento das pessoas. Apesar do personagem ser um contraponto interessante para o protagonista, o desenrolar proposto pelo roteiro é bastante clichê. O personagem dele não existia na vida real, ao contrário de Ron Woodroof.
Dirigido por Jean Marc Vallée, de C.R.A.Z.Y. (também um excelente filme canadense), o filme também concorrre a melhor roteiro original, edição e maquiagem. Parece que pelo menos os prêmios de interpretação estão garantidos.
Avaliação: ★★★★
5 – O Lobo de Wall Street
Confesso que fui assistir a O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) com algumas ressalvas. A história de um cara inescrupuloso que quer enriquecer a qualquer custo, e acaba perdendo um pouco a noção dos impactos do dinheiro na vida das pessoas, para mim já é uma ideia bem explorada em outros filmes.
Mas o filme é dirigido por um Martin Scorsese em grande forma (que já havia me impressionado no belíssimo Hugo). Pouco a pouco, tanto a criativa direção de Scorsese como a interpretação cativante de Leonardo DiCaprio (indicado ao Oscar) me conquistaram totalmente.
A película é longa, mas passa num instante. Jordan Belfort, o protagonista da história (DiCaprio) é um personagem odioso, mas cativante e divertido. Mas não se engane, continuamos torcendo para que ele se dê mal. O personagem é inspirado em um Jordan Belfort real, que escreveu um livro e hoje dá palestras motivacionais (!).
Belfort é um corretor da bolsa que resolve abrir sua própria empresa e treinar um grupo de funcionários a enganar as pessoas com investimentos que só visam enriquecer os próprios corretores e arruinar seus clientes. A maneira como eles são treinados a enganar seus clientes é assustadora, mas revela muita coisa. Possivelmente já caímos nessa abordagem em nossas próprias vidas.
Leonardo DiCaprio arrasa em “O Lobo de Wall Street”
Pouco a pouco eles enriquecem e começam a viver uma vida cheia de extravagâncias, festas, drogas e mulheres. Suas experiências beiram o ridículo e são muito divertidas, como por exemplo quando Belfort se droga e perde parte dos movimentos (sequência antológica), Donnie (Jonah Hill) se masturba no meio de uma festa (na cena, ele usa uma prótese peniana) ou quando eles pegam uma tempestade no Mediterrâneo.
Uma participação pequena de Matthew McConaughey também deve ficar para a história, quando seu personagem entoa uma espécie de grito de guerra dando batidas em seu peito. Consta que esse é um procedimento de aquecimento do ator, que DiCaprio incentivou para que McConaughey incluísse no filme.
As situações beiram o surreal, como parece ser a vida daqueles corretores vivendo um mundo fora do real. Scorsese incentivou muito os atores a improvisarem durante as filmagens, o que transparece no frescor e originalidade de muitas cenas.
Mas novamente, o grande destaque fica para a direção criativa, ousada, energética e precisa de Martin Scorsese, que conduz o filme muito bem. Além de várias locações em Nova York, o filme também tem cenas que se passam em Genebra, Londres, Portofino e nas Bahamas (embora filmada em Long Island) e concorre a 5 estatuetas.
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Editor do Viagens Cine, fotógrafo e videomaker. Curte cinema e leva a vida e as viagens com toques de romance, drama e aventura. Formado em Letras, ex-bancário e muito mais feliz como blogueiro de viagens.
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