O turismo LGBT no Brasil já está vivendo tempos muito melhores do que antigamente. Destinos, hotéis e serviços já estão muito melhor preparados para atender o turista LGBT.
Como viajantes gays, eu e Cleber vivemos isso na pele. Mas a verdade é que, cada vez mais, temos notado que as discriminações estão diminuindo. E na verdade, nós não queremos tratamento diferenciado, pelo contrário, queremos ser tratados como qualquer outro casal.
Por isso, iniciativas focadas no turismo lgbt são super bem-vindas. Em 2016, Ministério do Turismo do Brasil divulgou uma Cartilha com Dicas para Atender Bem os Turistas LGBT. Infelizmente essa cartilha foi tirada do ar posteriormente.
Apesar de muitos avanços no atendimento do segmento LGBTQIA+, ainda existem muitos estabelecimentos e serviços que discriminam os gays, e educar para manter um atendimento igualitário é uma atitude louvável.
Vamos conferir algumas dicas? Será que seu hotel, destino, agência ou estabelecimento tem alcançado essas boas práticas?
Turismo LGBT no Brasil: Dicas de Como Atender o Viajante Gay
1 – Discriminação é crime
A Constituição Federal de 1988 garante o bem de todos, independente de qualquer tipo de discriminação. Alguns Estados explicitam a orientação sexual, mas mesmo naqueles onde isso não é dito, discriminar o LGBT vai contra a Constituição.
E nem precisamos mencionar que desde 1999, homossexualidade não é considerada doença nem pela Medicina nem pela Psicologia. Doente (e criminoso) é quem discrimina.
“Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (…) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, Constituição Federal do Brasil.
2 – Trate com respeito e de forma igualitária
Ao contrário do que muitos LGBTfóbicos acreditam, o turista LGBT não quer regalias ou ser tratado de forma diferente. Nós só queremos ser tratados como qualquer outro turista.
Antigamente era mais comum a gente chegar em hotéis com reservas para quartos de casal, e sermos questionados por isso. Em alguns casos, sem perguntar aos hóspedes gays, o funcionário da recepção já considera que houve um engano e troca o quarto de casal por um quarto com duas camas de solteiro.
Hoje em dia, está cada vez mais raro que esse tipo de surpresa ou questionamento aconteça. Mas ainda conhecemos casais homoafetivos que se sentem constrangidos em pedir uma cama de casal, mesmo tendo feito reserva dessa forma.
“Confirme todos os dados da reserva sem dar ênfase às informações sobre o tipo de cama”, salienta a cartilha.
Uma situação que já aconteceu conosco foi de um hotel que afirmou que não era adequado para o nosso perfil pois era um hotel família. Tudo bem, nós não curtimos crianças na piscina, mas a premissa era de que nós gostaríamos de um hotel com mais festas e badalação, que não necessariamente é o nosso estilo.
Ou seja, antes de colocar todos os gays em um mesmo guarda-chuva, procure conhecer o perfil do turista gay. E se o casal homoafetivo tiver filhos? É um turista que gosta de festas ou prefere ambientes mais reservados? Evite paradigmas e estereótipos sobre os turistas LGBT.
Curaçao Gay Friendly: Floris Suite Hotel
3 – Cuidado com termos populares
Não existem situações em que o uso de termos populares sobre gays, sejam aceitos num atendimento entre prestadores de serviço e turistas LGBT.
Por isso, chamar de bicha, sapatão, viado ou termos populares requer um grau de intimidade ou conhecimento que o prestador de serviço não possui. Aliás, escolher um termo relacionado a orientação sexual já é complicado, já que nós não queremos ser identificados por nossa orientação sexual, e sim pelos nossos nomes ou pelos nossos gêneros (senhor, senhora, etc.).
Ultimamente, até ocorreram algumas formas dos gays se apropriarem de termos usados de forma pejorativa. É o caso do termo bicha, por exemplo, que virou título de um documentário sobre o amor próprio entre os gays.
Ou como esquecer o personagem Ferdinando do programa humorístico Vai que Cola (interpretado por Marcus Majella) falando viado. Mas novamente, são situações fora do contexto das relações dentro do turismo LGBT.
4 – Evitar fazer piadas
Em excursões e passeios, é comum que o guia turístico procure usar o humor para quebrar o gelo e manter o passeio mais divertido e animado.
Usar piadas com personagens gays são comuns. Lembro de várias situações em que me senti intimidado a revelar minha orientação sexual, após ter ouvido piadas sobre gays em passeios turísticos.
Por isso, elas devem ser usadas com parcimônia, assim como piadas sobre negros, judeus, mulheres, ou qualquer tipo de humor usado para ridicularizar o outro.
Muitos defendem que o humor não deve ter limites ou ser politicamente correto. Em geral as pessoas que defendem isso nunca são aquelas afetadas por essas piadas.
“O melhor é tirar comentários preconceituosos do seu repertório, assim como as piadinhas”, recomenda a Cartilha de Turismo LGBT.
5 – Não tire as pessoas do armário publicamente
Nem todo gay é assumido publicamente. Por isso, seja discreto, exceto se você notar que o gay já se abriu anteriormente.
Mesmo nós, que somos gays, já passamos por situações em que a gente achava que um amigo gay já era assumido, e simplesmente não era. Por conta de um comentário nosso, a pessoa teve que sair do armário forçadamente.
Por isso, tome cuidado ao expor a orientação sexual dos turistas LGBT.
6 – Não crie uma intimidade forçada
Na tentativa de parecer simpático ao turismo LGBT, você pode exagerar na dose. É certo que nós, gays, somos adoráveis, mas querer virar um amigo instantâneo do seu cliente gay pode gerar estranheza. Tudo que é forçado ou exagerado desperta suspeita.
Na realidade já notei algumas vezes em que as pessoas fazem um esforço adicional para transparecer que aceitam bem os gays. Isso nunca me incomodou, pelo contrário, demonstra boa vontade em receber bem.
Foi o que aconteceu na nossa chegada na lua de mel em Aruba. Assim que soube que éramos um casal gay, a recepcionista já se apressou em dizer que tinha amigos gays e que Aruba era um destino receptivo aos viajantes LGBT. Ponto pra ela.
Lua de Mel em Aruba: Aruba Marriott Resort
Mas nem todos são como eu. Muitos gays são mais discretos e fechados (lembre-se, não é porque a pessoa é gay que ela é extrovertida ou divertida). Então como com qualquer outra pessoa, procure conhecer antes para saber que tipo de relacionamento e intimidade você criará com ela.
Mas quem sabe, não pode nascer uma boa amizade. Nós temos ótimos amigos que trabalham em estabelecimentos turísticos que já nos receberam.
7 – Sempre considere a existência de casais homofoativos
Não dá nem para cogitar fazer uma promoção de Dia dos Namorados em um hotel ou restaurante, e ficar surpreendido quando um casal homoafetivo aparecer.
Pior ainda é dizer que a promoção se restringe apenas a casais héteros: volte ao primeiro item e saiba que discriminação é crime.
A cartilha alerta para que sempre os profissionais do turismo cogitem a possibilidade de que duas mulheres ou dois homens, indo jantar em um restaurante no Dia dos Namorados, sejam um casal LGBT. Cogitar não é ter certeza, mas é melhor do que simplesmente assumir que nós não existimos.
Em restaurantes, permanecem algumas dúvidas, que no entanto são derivadas do machismo de nossa sociedade. Oferecer o vinho primeiramente ao homem ou dar a conta ao homem são práticas que deveriam ser abolidas, mesmo para casais heterossexuais.
O ideal é perguntar quem irá degustar o vinho e colocar a conta no centro da mesa.
Vale também observar outras dicas sobre transgêneros. Vale a pena conferir.
“O Ministério do Turismo está atento aos públicos identificados como prioritários pelo Plano Nacional de Turismo. Precisamos entender as necessidades de cada perfil de viajante para oferecer o melhor atendimento possível para transformar a experiência do turista no país ainda mais positiva”, comentou o ministro do Turismo, Marx Beltrão, no lançamento da cartilha, em novembro de 2016.
A preocupação do Ministério de Turismo não é exagerada. Os turistas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) são 10% dos viajantes do mundo e responsáveis por 15% do faturamento do turismo (dados da OMT – Organização Mundial do Turismo).
8 Comentários
Lindo os momentos de seu casamento com Cleber, emocionante. vejo todos seus videos.
Felicidades!!
sou fã de vocês.
beijos e abraços
Obrigadão Luiz Henrique. Valeu pelo carinho, adoramos seus comentários. Beijos, abraços e tudo de bom!
Parabens pelo post…….toda a minoria ( sou Judia) me senti comovida…..
ha que se ter respeito e muito pelo proximo
…ja sofri com as piadas , com discriminação e preconceito………..e modestia parte..sou uma pessoa bem legal..
..a judia pao dura..a judia muquirana…nossa ela é judia..como se eu fosse um, ET…ate nao saber era normal..depois fui considerada “a judia” somos rotulados
ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii estamos juntos e conectados……..
Muito obrigado Marcia. Tudo o que queremos é sermos conhecidos pelo que somos, não é? E provavelmente ser judia pode definir um pouco de quem você é, assim como ser gay define um pouco do que eu sou, mas definitivamente somos sempre muito além disso. E que cada vez mais pessoas pensem em perder a piada, mas não perder o respeito. Beijos e muito obrigado pelo seu comentário.
Parabéns pelo artigo, necessario pra ajudar a sociedade a entender que pessoas sao pessoas, nao generos ou orientação sexual. Eu achei lamentável alguns comentários que voce citou ouvir aqui, mas ainda bem que esta mudando!
Oi, Maíra. As coisas realmente têm mudado bastante, pelo menos no respeito aos turistas gays. Que bom, afinal o pink money é dinheiro como qualquer outro. Beijos.
Que lindo post, parabéns pela iniciativa! O Brasil e o mundo ainda precisam de mais conteúdos como esse pra entender que somos normais e que merecemos ser tratados da mesma forma.
Aplaudo de pé!
Bjao
Muito obrigado Amilton. Pois é, igualdade sempre. Beijo grande!!!