Um dos nossos maiores objetivos nessa viagem para a Chapada dos Veadeiros era conhecer um dos cartões postais da região: o Mirante da Janela.
O Mirante da Janela fica no alto de uma montanha e tem vista privilegiada para os dois saltos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A gente já tinha visto essas duas quedas de perto, na Trilha dos Saltos (dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros). Um dos saltos tem 120 metros de altura e a outra cachoeira possui 80 metros.
Do alto, o visual dos saltos do Rio Preto parecem ainda mais incríveis e cinematográficos. O visual é sensacional.
Além da vista, o lugar permite uma foto inusitada. Uma formação de várias pedras forma um triângulo, uma janela para a paisagem, criando uma moldura perfeita para as fotos.
Mas para minha surpresa, foi bem difícil chegar no Mirante da Janela. Como estávamos bem determinador, no final das contas deu tudo certo. Mas nem tudo foram flores no caminho, confira a seguir quais foram os perrengues que encontramos no caminho.
Trilha do Mirante da Janela, um dos cartões postais da Chapada dos Veadeiros
Perrengues para chegar na Cachoeira do Abismo e Mirante do Janela e uma vista incrível para os Saltos do Rio Preto
Depois de uma trilha puxada até o topo de uma montanha, chegamos na região do Mirante da Janela, um dos melhores lugares da Chapada dos Veadeiros. Uma equipe de filmagem ocupava o lugar.
Acho curioso que quando estamos viajando, é normal encontrarmos alguma coisa relacionada a cinema: seja uma filmagem acontecendo, um festival de cinema ou alguma exposição. Sempre casual, mas é lógico que eu adoro.
Fui lá atrapalhar um pouco a filmagem. Pedi uma indicação rápida de qual era a direção do Mirante da Janela e o pessoal da equipe da filmagem foi evasivo na resposta. Lógico, fiz o papel do turista chato que estava atrapalhando o trabalho de uma equipe cinematográfica.
Não quis mais atrapalhar: eles continuaram a trabalhar e nós saímos à procura do visual famoso dos Saltos do Rio Preto, por entre uma enorme pedra furada.
Rodamos para um lado, depois para o outro, nos aventuramos sobre pedras enormes diante de um penhasco, e nada. Não encontrávamos a famosa formação triangular, que forma uma moldura para os saltos do Parque Nacional. Subir tudo aquilo e não conseguir encontrar um dos mirantes mais famosos da Chapada, seria absolutamente frustrante.
Coloco meu orgulho de lado e volto até a equipe de filmagem. Pergunto se havia algum guia de viagem entre eles. Um deles pergunta, afinal, porque tínhamos subido sem guia?
Boa pergunta senhor, mas a resposta era bem simples. Porque não conseguimos um guia.
Mirante da Janela: com ou sem guia
A verdade é que mesmo depois de minha última visita para a Chapada dos Veadeiros em 2012, a região ainda possui diversas deficiências turísticas. A começar pelos serviços oferecidos ao visitante.
Para quem viaja sozinho ou em casal, é preciso conseguir alguém para dividir os custos de um guia. Pagar R$ 150,00 por um passeio é puxado para a maior parte dos viajantes, então a solução é dividir com outras pessoas.
Mas tão ansiosos para fazer o Mirante da Janela, eu e Cleber estávamos dispostos sim a pagar um guia. Seria melhor se conseguíssemos dividir o valor, mas nem isso rolou.
Na pousada em que ficamos hospedados em São Jorge, a recepcionista ligou para uma agência local, a procura de um guia. Recebeu um não como resposta.
Cachoeira do Abismo: não rola na época de seca
Diante da dificuldade, a funcionária da pousada insistiu que não valia a pena ir para o Mirante da Janela, já que a Cachoeira do Abismo estava seca.
A Cachoeira do Abismo, que fica no meio do caminho até o Mirante da Janela, só tem volume de água significativo na época das chuvas. Em maio, época da nossa visita, já não tinha mais água suficiente. Muita gente deixa de fazer o passeio já que não rola o banho de cachoeira no meio do caminho.
Eu disse que queria ir mesmo assim, com ou sem cachoeira. Mas ela foi enfática: disse que não tinha como e que não era recomendável ir sem guia. Fiquei irritado.
Buscando um guia para ir até o Mirante da Janela
Nessas vilas pequenas, todo mundo conversa muito mais do que em lugares grandes. E numa conversa com outras pessoas, lá em São Jorge mesmo, tínhamos recebido uma recomendação de um guia.
E lá fomos nós atrás do guia, mas segundo ele, já era tarde demais para sair. Às 9h da manhã. Como assim?
Ou seja, juro que tentei fazer essa trilha com guia, portanto o esporro que levei lá no topo do Mirante da Janela foi injusto.
Ninguém vai me deter
A verdade é que a trilha é, sim, possível ser feita sem guia. Tanto que foi assim que eu e Cleber a fizemos. Ninguém (ou no caso, a falta de alguém) iria nos deter.
Seguimos de carro pela estrada de terra que vai para o Parque Nacional e numa bifurcação, seguimos as indicações para Mirante/Abismo. Estacionamos o carro e seguimos a pé.
O início da trilha até o Mirante / Abismo
Caminhamos bastante (cerca de 30 minutos) até encontrar a casa do seu Graciliano, um senhor que cuida da entrada da trilha e cobra uma taxa de R$ 15,00 por pessoa.
Perguntamos a ele se conseguiríamos fazer a trilha sozinhos e se ainda daria tempo. Ele disse que sim para tudo e deu algumas instruções num modo de falar bem característico, mas infelizmente a maior parte delas não entendemos direito.
O seu Graciliano ofereceu uma água e um café, aceitei a água e partimos. No primeiro trecho da trilha, rolam umas indicações no chão. Setas e indicações foram pintadas nas pedras e ajudam na orientação, assim como no Parque Nacional. Na dúvida, pegue sempre o caminho da direita, foi a orientação que tínhamos recebido e que acabou funcionando.
Cachoeira do Abismo
Pouco mais de 45 minutos depois de nossa saída do estacionamento, chegamos na Cachoeira do Abismo, praticamente seca. Uma pena, mas a cachoeira só existe mesmo na época das chuvas.
Provavelmente nunca vou conhecer, pois nos meus planos sempre vou preferir viajar para a Chapada dos Veadeiros na época de seca. Mas pelas fotos que eu vi na internet, a cachoeira é bem modesta mesmo, e nem vale fazer a trilha por causa dela.
Existem guias que oferecem um passeio até lá para ver o pôr do sol.
Há um tronco que faz às vezes de corrimão e atravessamos a área da cachoeira.
Seguimos mais um pouco por algumas pedras e encontramos uma escada de madeira, descendo. Lembramos que o seu Graciliano tinha comentado algo sobre ela.
O trecho mais puxado da trilha
Aqui começava o trecho mais difícil da trilha. São 10 minutos de descida íngreme, que pela duração poderiam soar fáceis, mas pelo tamanho e desníveis das pedras, exige bastante esforço dos pés e joelhos.
Ao chegar lá embaixo depois dos 10 minutos de descida íngreme, olho para outro morro e penso: tudo o que descemos, agora vamos ter que subir. A trilha envolve uma descida e uma subida, tanto na ida como na volta. Caminhamos um trecho plano de uns 5 minutos e começa a subida.
Mais 10 minutos que parecem intermináveis. Fiz várias paradas para descansar e tomar água (leve muita). O Cleber, mais disposto, ia na frente.
Finalmente no topo e nosso guia improvisado
E fim de trilha, já no alto, chegamos na equipe de filmagem que gravava sob a sombra de uma gigante pedra.
Perguntei para o pessoal se eles sabiam onde era o mirante, e eles me indicaram para a direita. E aí rolou aquela busca frustrada que me fez retornar para a equipe e perguntar se algum deles era guia. O cara me deu uma bronca por termos subido sem guia e cobrou R$ 50,00 para nos levar até a pedra do Mirante da Janela. Pagamos.
O guia andou para lá, depois para cá, depois desceu e pronto, tínhamos chegado no Mirante da Janela num caminho meio labiríntico que dificilmente eu conseguiria fazer novamente. Uma das dicas que nos tinham passado é que a pedra fica atrás das pedras maiores, e é preciso descer um pouco, mas realmente tentamos e não conseguimos.
Depois que encontramos a pedra, notamos algumas indicações nas pedras, escritas com giz. Caso esteja sem guia, fique de olho nessas anotações.
Finalmente, no Mirante da Janela
Já que tinha pagado R$ 50,00, aproveitei para pedir para o nosso “guia” para tirar algumas fotos nossas. Após as fotos, ele se foi, de volta às filmagens.
E nós ficamos mais uns 30 minutos naquele lugar cinematográfico. A vista é realmente de tirar o fôlego, para os dois saltos do Rio Preto.
Aproveite vários ângulos para tirar as fotos, não somente pela fenda na rocha.
Fique atento para não se perder na trilha
Na volta, ainda quase nos perdemos em um dos trechos da trilha. Demorou um pouco mas achamos o caminho de volta.
A dica é nunca pegar uma trilha mais fechada: o caminho é uma trilha bem aberta, se notar que a trilha ficou muito fechada e cheia de mato, desconfie.
Em outro momento vimos uma cobra atravessando a trilha e bateu um medo danado. Mas ela continuou sua trilha, ainda bem que não era a mesma que a nossa.
Moral da História: o Mirante da Janela vale a pena?
Sobre a trilha até o Mirante da Janela, duas morais da história. Primeira é que o lugar compensa, mesmo que a Cachoeira do Abismo estiver seca.
Segunda é que dá sim, para subir sem guia. Mas isso não quer dizer que você vai achar a formação triangular que dá nome ao lugar. De qualquer forma, há vários mirantes incríveis para os saltos do Parque Nacional.
Para encerrar o dia, fomos conferir o pôr do sol na Risoteria Santo Cerrado. O entardecer foi fraco, mas o risoto estava, como de costume, uma delícia.
Confira nosso guia completo:
Chapada dos Veadeiros – Dicas e Roteiro de Viagem
ATUALIZAÇÕES 2021:
- O Mirante da Janela atualmente conta com alguns decks de madeira, então hoje são vários lugares para contemplar o visual.
- No período da tarde, só é permitido fazer a trilha com guia.
- Não é permitido subir na pedra superior do Mirante da Janela, pois as pedras que ficam embaixo estão se deslocando.
Obrigado a minha amiga Cris Marques do Raízes do Mundo pelas informações.
Assista também nosso vídeo
Chapada dos Veadeiros x Chapada Diamantina, qual é a melhor Chapada?
FICHA TÉCNICA:
Passeio: Mirante da Janela e Cachoeira do Abismo
Direção: São Jorge, Chapada dos Veadeiros
Produção: R$ 15,00 R$ 30,00 por pessoa (trilha com guia é recomendável)
Fotografia: Fabio Pastorello
O melhor: O visual do alto da montanha para os saltos do Rio Preto é impressionante
O pior: Na minha opinião, foi a trilha com maior nível de dificuldade da Chapada dos Veadeiros (16 km ida e volta, com muita subida e descida)
Ano: 2017
País: Brasil
Avaliação: ★★★★★
25 Comentários
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Maria, a perigoso é andar em uma cidade grande com risco de ser assaltado e morto a qualquer hora do dia. Existe o risco de se perder e se machucar sim, mas isso existe em qualquer lugar do mundo. O simples fato do turista ir à chapada já movimenta a economia local então os turistas contribuem muito para o desenvolvimento local. O guia é OPCIONAL, o problema que os guias acham que todos os turistas são sem noção e precisam de babá pra pra não se perderem, não jogar lixo no chão ou se machucar pra dar trabalho para o corpo de bombeiros. Qualquer um que tenha condicionamento, um pouco de senso de localização , o mínimo de educação e cuidado está apto para fazer a trilha sozinho.
Achei um abuso o guia querer dar lição de moral no pessoal e ainda ter ter cobrado r$ 50, 00 só para mostrar a fenda. Por essas e outras que eu me recuso a contratar um guia para ir lá. Prefiro me perder e não achar o mirante do que ser extorquido. Se o guia fosse um pouco mais esperto, mostraria onde fica o mirante e aproveitaria o momento para fazer a sua propaganda para os blogueiros que iriam recomenda-lo para outras pessoas. O que os guias precisam entender é que eles não são indispensáveis. Eles precisam é oferecer um diferencial para que as pessoas contratem eles.
Hoje os guias estao cobrando no mínimo 300 reais para levar o turista até lá, realmente quem viaja em casal fica caro pagar 300 reais para todos os locais que se quer conhecer. =(
Show de bola Fábio! Ótimas dicas…
Obrigado Rafael. Abraços.
Acho perigoso ir sem guia por vários motivos. Sobre o horário se o pessoal da região fala é porque existe um prazo adequado para ir e voltar. Você nunca tinha ido lá, e se tivessem se machucado? Não sabem o caminho, é possível se perder … É a su opinião, ok, mas acho que estimula o turista de forma inadequada esse tipo de matéria. Realmente não deve ter valido a pena porque vc recebeu vários avisos dos locais, sobre o volume da queda d’água e o trajeto a se percorrer. Quando se paga o guia, a economia local se fortalece, gerando renda. A impressão é que vc tinha que fazer a matéria e foi de qualquer jeito.
Oi, Maria. Obrigado pela sua contribuição. Acho sim que existe um risco em se fazer a trilha desacompanhado de um guia. Como você deve ter lido no artigo, nós tentamos fazer com guia, queríamos fortalecer a economia local, mas não conseguimos e queríamos muito conhecer o lugar. Então a questão não é que tínhamos que fazer a matéria de qualquer jeito, mas esse era um lugar que eu queria muito conhecer, e fomos de qualquer jeito. Mas entendo sua posição e torço para que a Chapada dos Veadeiros se estruture melhor para oferecer esses passeios guiados aos seus visitantes, sem tantas dificuldades. Abraços.