O que fazer em Ilha Grande? A praia de Dois Rios, onde ficava o famoso Presídio de Cândido Mendes, é um dos lugares imperdíveis para se conhecer por lá.
Para esse passeio, é preciso disposição, já que você vai encarar uma trilha de cerca de 2 horas por trecho. Mas o esforço compensa, e chegar em Dois Rios é como fazer uma viagem no tempo. Além, é lógico, de conferir uma das praias mais lindas da ilha.
A história e a preservação de Ilha Grande dependem muito de Dois Rios e de seu presídio. Se por um lado, o presídio atraiu para Dois Rios uma população que trabalhava na estrutura de suas instalações, por outro lado reduziu durante muito tempo o potencial turístico da ilha. O presídio afastava turistas e investidores.
Boa parte da ilha permaneceu intocada durante muito tempo. Melhor para quem veio depois que o presídio foi desativado, a partir de 1994.
Ilha Grande – Trilha até a Praia e Presídio de Dois Rios
Dois Rios já foi locação de filmes como “400 Contra 1” e “Memórias do Cárcere”
A ilha é repleta de praias e passeios de barco incríveis, mas o nosso primeiro dia em Ilha Grande amanheceu um pouco nublado e já ficamos na dúvida sobre o que seria melhor fazer.
Dali, nossa intenção inicial era fazer mesmo o passeio pela trilha do Aqueduto (que é um passeio ideal para dias nublados ou de chuva, já que a trilha é bem tranquila). Mas o tempo resolveu abrir, reconsideramos o roteiro e partimos para Dois Rios.
Assista também nosso vídeo de Ilha Grande com o nosso TOP 10 Paias e Passeios
A “trilha” T14 – Vila de Abraão até Dois Rios (todas as trilhas de Ilha Grande são sinalizadas) começa na lateral de um campinho de futebol e próximo da Igreja de São Sebastião.
Para quem está com preguiça de trilha, existe um passeio de barco que leva até Dois Rios. É o Super Sul, que também visita as praias de Lopes Mendes, Caxadaço, Dois Rios e a Ilha de Jorge Grego. Como as praias são de mar aberto, o passeio depende das condições do mar.
Prepare-se:
- A trilha leva 2h a 3h de duração, conforme o ritmo do caminhante.
- O caminho é amplo, pois ali também circulam carros, portanto a maior dificuldade mesmo é a subida.
- No caminho existem alguns atalhos, que podem reduzir os cerca de 7,5 km de trilha para 5 km. A redução efetiva de tempo depende de sua rapidez para fazer a trilha, que ocorre em mata mais fechada.
- Existem alguns poucos restaurantes de comida caseira em Dois Rios e algum comércio. Mas por via das dúvidas, eu acho melhor levar água e algum lanche.
- Planeje bem o tempo. Lembre-se que ao final da visita, é preciso encarar pelo menos mais 2 horas de trilha de volta. O retorno é mais cansativo do que a ida.
- Em Dois Rios, não pega celular e também não há sinal de 3G.
Pontos de Interesse no Caminho para Dois Rios
Logo do início da trilha, existe uma placa indicando o início da Estrada da Colônia (ou Estrada de Dois Rios), que dá acesso aos seguintes pontos:
- Pico do Papagaio: apesar dos 6km de trilha (menor que a distância até Ilha Grande), ela demora cerca de 6 ou 7 horas (ida e volta) para ser percorrida;
- Praia e Vila de Dois Rios: nosso destino
- CEADS – UERJ: campus da Universidade carioca
- Praia do Caxadaço: 11,3 km (o início da trilha fica no final da Estrada da Colônia, e leva mais 4 horas de percurso ida e volta);
- Praia da Parnaioca: 15,8 km distante da Vila do Abraão
A trilha até Dois Rios
Nós denominamos esse caminho de trilha, mas na verdade o caminho é uma estrada, onde circulam poucos carros com acesso liberado na ilha, como os veículos da universidade, carros de emergência e caminhões de coleta de lixo. Ou seja, não rola ir de carro, muito menos carona.
O percurso envolve uma subida cansativa, um pequeno trecho reto e a descida até Dois Rios. Na descida, existe a entrada para um atalho, que aí sim é uma trilha e que permite cortar um bom pedaço da trilha. Como tinha chovido no dia anterior, preferimos fazer todo o caminho pela estrada mesmo.
Piscina dos Soldados
Fique atento. Um pouco antes da chegada, existe uma entrada para a Piscina dos Soldados, uma piscina natural escondida na mata (mas sinalizada a partir da trilha) e outra entrada para a trilha da Praia do Caxadaço (mais de 3 horas de caminhada).
Ao todo, levamos pouco mais de duas horas na ida e duas horas exatas na volta, em ritmo acelerado. Achamos o percurso na volta mais cansativo.
Chegada na Vila de Dois Rios
A chegada que me encantou na primeira visita a Dois Rios, formada por um corredor de palmeiras que se assemelha ao do Jardim Botânico do Rio, já não é mais a mesma. Árvores tomaram o espaço do corredor e prejudicam um pouco a visão das árvores.
Após essa passagem, é preciso assinar um livro de controle, onde você registra o horário de entrada (e depois é preciso registrar o horário de saída). Pronto, chegamos no domínios da Vila de Dois Rios, um lugar de casas praticamente abandonadas (na realidade moram cerca de 150 moradores que trabalham na UERJ) e um aspecto de lugar esquecido no tempo.
Praia de Dois Rios
Enfim, vamos à praia, né? Depois daquela manhã nublada, ter chegado na praia e encontrado um mar de tom azul mais impressionante entre os que eu já vi, foi demais.
A praia de Dois Rios tem aproximadamente 1 km de extensão e é deliciosa. De início, ficamos um pouco acanhados de entrar no mar, pois a água estava um pouco gelada, mas depois acabamos no jogando e o mar estava delicioso.
Os dois rios
Além do mar, Dois Rios ainda tem o diferencial de possuir dois rios para quem prefere banho de água doce. Os dois praticamente têm as mesmas características. Mas uma coisa que notamos foi que o curso da água diminuiu bastante em relação a última vez que tinhamos visitado, em 2010. Tá certo que foi logo depois daquele deslizamento famoso que ocorreu em Ilha Grande, então tinha chovido muito por lá.
Enfim, conferimos os dois rios, entramos no mar e por volta das 15h30 retornamos para a trilha pois ainda tinha mais 2 horas de caminho para percorrer. No caminho de volta, passamos pelas ruínas do antigo presídio.
O presídio de Cândido Mendes e o Museu do Cárcere
O lugar tem em sua história o fato de ter abrigado um presídio, até o ano de 1993. O presídio chamava-se Cândido Mendes, e abrigou alguns presos políticos, entre eles os mais célebres foram Graciliano Ramos (que escreveu o livro Memórias do Cárcere, que também virou filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos), Fernando Gabeira, Nelson Rodrigues e Luiz Carlos Prestes.
O presídio no cinema
O lugar também foi cenário do filme 400 Contra 1, de Caco Souza. No filme, eles contam um pouco como o presídio era dividido entre presos políticos e presos “normais” e os conflitos existentes entre eles. Foi no presídio que nasceu o Comando Vermelho, famosa facção criminosa do Rio. O filme, no entanto, é bem fraco e não vale a pena conferir.
Prefira o clássico “Memórias do Cárcere”, de Nelson Pereira dos Santos e protagonizado por Carlos Vereza. O filme de 1984, inspirado em livro de 1953, é baseado na experiência do escritor Graciliano Ramos, que ficou preso em Ilha Grande durante 10 meses.
As instalações do presídio foram demolidas em 1994 e no lugar hoje funciona o Museu do Cárcere. Aliás, no Museu do Cárcere, que se encontra em Dois Rios, uma das funcionárias nos contou que acompanhou as gravações. Segundo ela, que nasceu em Ilha Grande, o presídio não costumava tratar mal seus presos, que contavam até com sessões de cinema, frequentadas também pelos habitantes da vila.
Em 2016 não conseguimos entrar, mas em 2019 o museu estava aberto e adoramos a visita. Além de apresentar os principais registros históricos do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro, o museu também procura levar o visitante a entender o sistema prisional brasileiro e suas diversas políticas através dos tempos.
No lugar também foi instalado uma unidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ que visa estudar e zelar pela preservação da natureza da ilha, que após o fechamento do presídio, sofreu com o crescimento turístico desordenado.
35 Comentários
Caro Fabio Pastorello: acabo de ler teu excelente comentário. Foi como se estivesse acompanhando vocês durante a maratona realizada, que, é claro, exige um bom condicionamento físico, e tenho de confessar que não sei se estarei em condições de aventurar-me a tanto, nem hoje e muito menos no futuro. Os anos começam a pesar. Mas foi excelente o texto, não deixou dúvidas. Anos passados, eu viajava de automóvel, de Belo Horizonte a São Paulo, via BR-101. Transpus a ponte sobre a Bahia da Guanabara e segui em frente. Terminei pernoitando num hotel em Angra dos Reis e, do alto, vislumbrei Ilha Grande. Pensei comigo: será que um dia terei a oportunidade de conhecer essa ilha histórica, cuja casa prisional tanto contribuiu para isso? Concluo que terminei finalmente conhecendo a ilha através de vocês, sentado na frente do meu computador, aqui em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Li o texto do Walmir Ferreira dos Santos, que bateu duro no conterrâneo Brizola, o qual, como prefeito de Porto Alegre, aterrou boa parte do Rio Guaíba. Ainda menos mal que não implodiu também com a bela enseada de Dois Rios. Por fim, obrigado pela excelente aula de geografia e história. Um abraço muito cordial. Agora, só me resta ler Graciliano Ramos!
Muito obrigado Ari por seu lindo depoimento. Felizmente, existem muitas formas de “conhecer” um lugar: os textos, os vídeos, a literatura ou pessoalmente. Cabe a nós tirar o melhor de cada uma dessas experiências. Abraço grande pra você e volte sempre.
Adorei o relato de vocês sobre esta trilha. Já estive na Ilha Grande, mas não consegui fazê-la. Na próxima vez irei sem falta. Nunca tinha pensado seriamente sobre voltar de barco. Pode ser uma opção se estivermos muito cansados, agradeço ao Gilberto Burbes por compartilhar a experiência.
Sou J SOUZA, autor do Livro 24 Horas no Cárcere. Sou ASP aposentado e meu inicio de trabalho como servidor público no DESIPE, se deu em 1985, na PENITENCIÁRIA CANDIDO MENDES. aí na Vila Dois Rios em Ilha Grande. Narro alguns fatos acontecidos no interior da unidade prisional, que acho contribuir para a historia da prisão.
Eu nasci em Dois Rios, no dia 11 de novembro de 1942. Filho de JOAQUIM DOS SANTOS e SEVERINA FERREIRA DOS SANTOS. O meu pai, guarda do presídio Candido Mendes desde 1941, sendo transferido para o complexo Frei Caneca em 1961, após a transferência da Capital para Brasília. Cresci na Ilha Grande, ali permanecendo até os meus 14 anos, quando transferi-me para o Rio de Janeiro, onde completei os meus estudos, secundário, médio e universitário. Ingressei na Polícia Civil do recém criado Estado da Guanabara, posteriormente Estado Favela Rio de Janeiro, Hoje, capital nacional da Bandidagem. Recentemente, já aposentado, estive na Ilha Grande, verificando os efeitos da canalhice elaborada pelo terrorista Leonel Brizola, demolidor do prédio sede do Presídio Cândido Mendes, talvez com receio de lá ser confinado antes da sua transferência para as fornalhas do Inferno. Chorei ao relembrar os momentos que ali vivi, livre e feliz. Visitei no antigo cemitério já envolto por densa vegetação, as sepulturas da minha mãe, minha avó paterno e de um irmão que faleceu aos 3 anos de idade, por falta de assistência médica.
Walmir obrigado por compartilhar sua historia com a gente. São muito importante saber as experiencias de que viveu ou vive no local.
Obrigada Fábio Pastorello pelo belíssimo relato que alimentou mais ainda minha vontade por conhecer essa parte da ilha.
Obrigada ao amigo, Fábio tbm, que comentou sobre ir de bicicleta. Valeu mesmo. Estava buscando essa informação sobre ser viável ou não.
Que legal Thais. Abração e muito obrigado.
Estive lá quando o presídio ainda estava ativo. Consegui fazer uma visita na parte administrativa do prédio e aproveitar o visual maravilhoso daquela parte da Ilha. E pela escassez do comércio local, acabei almoçando no presídio mesmo. No retorno peguei carona com uma viatura guiado por um presidiário q estava no bom comportamento, confesso q fiquei receosa com a situação, mas sem dúvida, foi uma experiência incrível!
Que legal Denise. Muito obrigado por compartilhar sua experiência, adorei. Abraço grande.
Estive lá quando o presídio ainda estava ativo. Consegui fazer uma visita na parte administrativa do prédio e aproveitar o visual maravilhoso daquela parte da Ilha. E pela escassez do comércio local, acabei almoçando no presídio mesmo. No retorno peguei carona com uma viatura guiado por um presidiário q estava no bom comportamento, confesso q fiquei receosa com a situação, mas sem dúvida, foi uma experiência incredível!
estive por lá em Jan 2021, fui com esposa e filhos, ao todo percorremos 9.8km somente de ida. Na volta decidimos pegar um taxiboat até Lopes Mendes….ATENCAO, Exija o colete salva vidas. A saida de dois Rios o mar e turbulento, sem muito movimento de outros barcos, ou seja, o perigo existe e é constante. Chegamos em Lopes Mendes após 25min, R$40 por pessoa, e dela andamos 30min até Pouso e pegamos uma escuna de volta ao Abraão.
Amanha vou conferir a trilha….obrigado pelas dicas.
Oi, Arlei. Nós é que agradecemos o comentário. Abraços.
É um excelente passeio pela beleza natural da Vila de Dois Rios, mas fazer a trilha de bicicleta é uma tremenda furada. Metade do caminho é subida e você terá que empurrar a bicicleta. A outra metade é uma descida toda irregular, cheia de buracos e pedras. Caso você não seja habilidoso nesse tipo de terreno vai acabar empurrando a bicicleta na descida também. Em novembro de 2020 o presídio estava fechado em razão da pandemia.
Verdade, Fábio. Também acho bem ruim ir de bicicleta, até mesmo porque o terreno é super acidentado. Abraços.